… ou porque eu decidi começar a escrever em inglês.
Em 2008, eu estava no lugar certo, na hora certa. Enquanto concluía meu master em Design Management na Europa, tive a chance de prestigiar o primeiro congresso de Design de Serviço da história, organizado pela Service Design Network em Amsterdam. Voltei ao Brasil inspirado por participar do começo de algo tão interessante e com tamanho potencial. Acabei sendo um dos pioneiros no Design Thinking, responsável por fundar o primeiro curso sobre o assunto da América Latina na ESPM e trazer ao nosso país a primeira e principal consultoria de Design de Serviço do mundo, a Livework.
Por ter levantado e carregado essas bandeiras em nosso país por tanto tempo e, ainda, por sentir que grande parte do meu propósito estava atrelado a incentivar a adoção do Design para a construção de melhores e mais inovadores serviços em nosso país, tomei a decisão de escrever, prioritariamente, em português ao invés de inglês. O racional era bastante simples: há muita gente ainda que não fala o idioma bretão e que precisaria desse tipo de conteúdo que eu compartilharia. Além de trazer conteúdos relevantes para dentro de casa, acredito que a produção de conteúdo próprio poderia ajudar a melhorar a qualidade dos serviços no Brasil.
Não que a missão esteja completa, mas mudei de ideia.
Confesso que normalmente não compartilharia um texto para anunciar ou justificar uma decisão pessoal como essa porém enquanto refletia a respeito dessa decisão, percebi o quão profundamente meus motivos estão conectados a quem somos como brasileiros — e acho que isso pode ser combustível para boas conversas. Listo abaixo alguns pontos de vista tentando convencer a você, que está lendo esse texto e também escreve os seus próprios em português, a fazer o mesmo que farei daqui pra frente…
Tem cada vez mais gente falando inglês no Brasil
O Brasil de hoje não é o mesmo de 10 anos atrás. No começo, a justificativa para não escrever em inglês era que grande parte das pessoas ainda precisava de ajuda para navegar nos conteúdos que estavam no idioma. Nesse sentido, se você está entre as pessoas que ainda não domina o idioma, duas dicas: Google Tradutor e Duolingo. O primeiro, ajudará você a traduzir os textos que encontrar em inglês. O segundo, a aprender logo o idioma e não perder mais conteúdo relevante — a maior parte do que tem de bom, no mundo, está em inglês.
Brasileiro tende a valorizar mais o que é de fora
Precisamos mudar isso. Basta um Zé Ninguém chamado Joseph Nobody publicar qualquer tipo de conteúdo que ele já é apreciado e tratado como celebridade por aqui. Ele pode ter estudado em uma universidade sem qualquer reputação, não ter toda a experiência que diz ter e só parecer bem-sucedido na superfície mas ele será reverenciado. Por outro lado, valorizamos muito pouco os nossos talentos e boas iniciativas, sendo que tem tanta gente tão boa, fazendo tanta coisa legal por aqui… Tivessem vindo de fora, estaríamos copiando. Como são daqui, pouco se ouve a respeito delas. É por isso que …
Precisamos levar o que está acontecendo aqui para outros lugares
O Brasil ainda é uma caixa preta. Não se escreve o que acontece aqui porque somos muito ruins em contar nossas histórias. Precisamos dar mais visibilidade ao que está surgindo por aqui. É por isso que decidi que, ao invés de ser um veículo que traz o que vem de fora, ao escrever em inglês será possível fazer também o caminho contrário e levar o que temos de bom para os quatro cantos do mundo.
Quando palestrei em San Francisco em 2011 contando sobre o nosso trabalho de capacitação de 150 executivos em Design de Serviço no setor financeiro, fomos considerados o maior case de impacto da área no mundo naquele momento. As pessoas ficaram abismadas em saber que algo desse porte estava acontecendo aqui no Brasil.
De lá pra cá muitos outros grandes trabalhos foram realizados na área, não só pela Livework. Precisamos compartilhá-los com o mundo, mostrar o que somos capazes de fazer. Até pelo ponto anterior, acredito que se os de fora valorizarem o que temos aqui, é possível que os daqui também passem a valorizar e, com o passar dos anos, não precisemos mais dessa chancela que vem de fora. Talvez seja esse um caminho necessário, mesmo.
Com fronteiras se fechando, vamos construir pontes
Engraçado pensar em movimentos como o muro do Trump e o Brexit em pleno Século XXI. Costumo dizer em minhas palestras que estamos em plena Era da Transparência e que, na batalha entre o público e o privado, o público está ganhando de lavada pois as pessoas decidiram compartilhar suas vidas com todos. Essa transparência está potencializando alavancas de confiança que, por sua vez, estão possibilitando novos negócios e transformando o mundo ao nosso redor. Pense na economia colaborativa, as referências estão por todas partes. Hoje já entramos e saímos o tempo inteiro de países virtualmente. Para unificar precisamos de um idioma comum. O dos nossos tempos é, sem dúvida alguma, o inglês.
Se o alcance é maior, o impacto e a transformação também
Escreve-se para registrar mas publica-se para compartilhar pontos de vista e ideias, para iniciar e estimular movimentos. Nesse sentido, quanto mais pessoas forem atingidas pelas mensagens, maior o potencial de mudança. Ao passar a escrever em inglês sei que perdemos parte do público brasileiro (mas não totalmente) porém ganhamos um público global, conectado. Principalmente em mercados menores, como o meu, isso é muito importante! Ao escrever em inglês, temos um movimento de dentro para fora e de fora para dentro, importante para a troca.
É claro que vou continuar dando cursos, palestras, entrevistas e, vez por outra, escrevendo artigos em português pois o meu propósito está ligado ao nosso país e a que tenhamos melhores relações com as organizações, sejam elas iniciantes ou gigantescas. De qualquer forma, esse é um adeus (temporário?) a produção de textos, pelo menos por aqui, em português.
See you soon!